Nascido no dia 24 de abril de 1952 em Arcueil, um subúrbio de Paris, quando menino Jean Paul Gaultier, pouco queria saber dos brinquedos que tanto encantavam a garotada da época. Sempre preferiu vestir, pentear e maquiar seu ursinho de estimação, chamado Nana, do que participar de um jogo de futebol entre seus amigos. Além disso, queria mesmo era criar bijuterias e acessórios com elementos que achava no lixo. Isso já revelava seu espírito transgressor e o precoce talento de unir opostos completos em uma peça de roupa. Não é à toa que a imprensa e a crítica de moda são unânimes em afirmar que Gaultier foi o responsável por levantar a discussão sobre o limiar entre o bom e o mau gosto por meio da prática da subversão. Depois de enviar seus desenhos para todos os importantes estilistas da época, no dia do seu aniversário de 18 anos, em 24 de abril de 1970, recebeu um contato da Maison Pierre Cardin: o autodidata Jean Paul Gaultier havia conseguido seu primeiro emprego com um dos mais importantes criadores da época.
No ano seguinte, após uma rápida passagem por Jacques Esterel e pela Jean Patou, voltou a trabalhar com Pierre Cardin em 1974 para cuidar da loja do estilista francês em Manila nas Filipinas, onde chegou a desenhar para a primeira-dama do país e mulher do ditador Ferdinand Marcus, Imelda. E, finalmente, em outubro de 1976, já de volta a França, Gaultier, com a ajuda de seu companheiro Francis Menuge, apresentou no planetário de Paris sua primeira coleção, batizada Bric et Broc, composta por roupas feitas de tapetes, de ráfia, tutus de bailarina e jaquetas. As críticas não foram muito favoráveis, mas a rejeição não duraria muito. Em pouco tempo, o estilista passaria a ter suas loucuras não só aceitas, mas disputadas. E finalmente, em 1977, inaugurou sua própria Maison. Era o surgimento oficial da marca JEAN PAUL GAULTIER e do estilo irreverente que se baseava mais no movimento punk londrino da época do que nas tendências da moda parisiense. Rapidamente ganhou fama graças a um estilo rebelde e sexy que seduzia tanto a garota do subúrbio quanto a burguesa dos bairros chiques.
O nome de Gaultier ficará para sempre gravado na história da moda como um estilista que rompeu conceitos há muito estabelecidos, o que resultou em seu apelido: “enfant terrible” (“criança terrível” em português). Nos anos de 1980, ele ousou ao deixar aparente a lingerie, trazendo-a do interior para o exterior com o famoso espartilho cônico (inspirado em um corselete encontrado no guarda-roupa da avó). Em 1983, em um desfile para apresentar sua coleção masculina, o estilista eternizou um de seus maiores ícones: a camiseta de marinheiro. Além disso, desde 1984 com a coleção Le Retour de L’Imprimé (prêt-à-porter feminino primavera-verão), Gaultier criou uma mistura da África e da Europa ao dobrar túnicas e minissaias e enfeitar suas modelos com chéchias. No ano seguinte, mais uma ousadia ao desconstruir o terno masculino de listras e propor saia para os homens, inspirada no kilt, o traje típico dos escoceses. Uma imagem dessa revolução lhe valeu, anos depois, o lugar no pôster principal de uma badalada exposição no Metropolitan Museum de Nova York com o título Coração Valente: homens de saia, com imagens e peças de top estilistas do mundo fashion, entre eles o próprio Jean Paul Gaultier. Causou também grande impacto nos desfiles ao utilizar modelos nada convencionais, como homens idosos e mulheres gordas, modelos tatuadas e com piercings, entre outras excentricidades. Isto lhe valeu muita crítica, mas também trouxe enorme popularidade para sua marca.
Em 1990, seu talento recebeu a coroação final ao ser ungido pela deusa máxima do pop, Madonna, que o elegeu como o estilista de sua turnê mundial “Blond Ambition” (do inglês, “ambição loira”). Graças a sua intimidade com a subversão, o estilista trouxe a lingerie à mostra e imortalizou em Madonna o espartilho com os bojos cônicos, imagem que ficou registrada como um dos ícones do final do século. Esse foi apenas o início de uma íntima parceria entre a diva loira e o estilista, que muito rendeu - inclusive um pedido de casamento. Em 1995, Gaultier revelou à imprensa que, por várias vezes, teria proposto matrimônio à pop-star, que lhe disse: “sim, Jean Paul, eu me casarei com você porque é o único homem que não me fez sofrer”. Quando questionado pela imprensa porque a ideia de matrimônio não teria sido concretizada, Gaultier inteligentemente retrucou: “um dia, nos casaremos de verdade, o que acontece é que ainda não criei um vestido de casamento adequado”.
Brincadeiras à parte, por duas temporadas, Madonna brilhou em desfiles do grande amigo. E, de acordo com a sua postura polêmica da época, sempre causando furor. Gaultier também deu um toque de Midas para o segmento dos cosméticos. Vários de seus perfumes bateram recordes de vendas por anos seguidos. O primeiro, feminino, foi lançado em 1993 e a embalagem remetia ao corpete criado para Madonna. O masculino LE MÂLE arrasou quarteirão: ainda é best-seller em muitos países da Europa. Seus perfumes foram inovadores: os frascos tinham forma de bustos masculinos e femininos, e alguns vinham acondicionados em lata. Tal sucesso impulsionou o lançamento não apenas de cosméticos, mas também de uma linha de maquiagem para homens. Delírio para modernos e metrossexuais.
Outro ponto alto de sua carreira foi o ingresso no mundo da alta-costura. Em 1997, ano em que completava duas décadas de sua marca própria, debutou no topo do mundo da moda e, ao lado de seu contemporâneo e também brilhante estilista, o francês Thierry Mugler, celebrizou-se por renovar o mundo da alta-costura com desfiles performáticos e inesquecíveis. Em 2003, aceitou o convite da tradicional e luxuosa Hermès e assumiu a direção criativa da Maison francesa, sendo a primeira vez em sua carreira que desenharia para outra marca. Gaultier repaginou a estética tradicional da marca e foi muito elogiado pela imprensa, além de trazer enormes ganhos financeiros para a Hermès até 2010, quando deixou o cargo.
Linha do tempo
1993
Lançamento do CLASSIQUE, primeiro perfume feminino da marca.
1995
Lançamento do LE MÂLE, primeiro perfume masculino da grife.
1999
Lançamento do perfume feminino FRAGILE.
2002
Inauguração de sua primeira loja própria nos Estados Unidos, localizada em Nova York.
2005
Lançamento do perfume unissex GAULTIER.
2007
Lançamento do perfume masculino FLEUR du MÂLE.
2008
Lançamento do perfume feminino MA DAME.
2011
Lançamento do perfume masculino KOKORICO.
2017
Lançamento do perfume feminino SCANDAL. O perfume é ousado como a marca, a começar pelo frasco, que mudou drasticamente após décadas de uma interminável e desejável coleção de bustos. Agora, chegou à vez das pernas. E para deixar as mulheres de pernas para o ar, a marca criou um frasco cuja tampa chama muita atenção pela pequena escultura que apresenta.
Lançamento de um perfume feminino inspirado na heroína Mulher Maravilha. Para os homens, o escolhido foi o Super Homem. Ambos os perfumes tem edição limitada e os frascos são os já conhecidos bustos feminino e masculino.